Olá a todos! Hoje trago um pouco da história da princesa russa Anastásia Romanova. Quem nunca ouviu falar dela? Se tem alguém que nunca leu uma linha sobre a moça, hoje poderão conhecê-la. Se assistiram ao filme da Disney de 1997 com certeza lembram da história da jovem órfã que se descobre nada mais nada menos que a menina mais nova da família imperial russa que sobreviveu à matança dos pais e irmãos. Acompanhemos o desenrolar dos fatos sobre sua vida e os eventos que a levaram a se tornar uma das personagens históricas mais veneradas da História recente, mas alerto-os desde já que não esperem encontrar a mesma história do mencionado filme.
Uma família unida e feliz que nunca imaginou que seu fim seria tão trágico... Imagem: Upendista.com |
Anastásia Nikolayevna Romanova (em cirílico russo: Анастасия Николаевна Романова) nasceu em 18/01/1901 em Peterhof (Rússia) filha do imperador Nicolau II e sua esposa Alexandra Feodorovna (aqui só um parêntese cultural: em russo o sufixo 'vna' significa 'filha de' seguida do nome do pai. É a forma feminina de 'vich'. No caso dela o sobrenome era o nome da dinastia seguido de A, como em qualquer outro nome russo). O czar e a czarina não pareciam muito felizes em ter tido uma quarta menina (os dois já eram pais de Olga, Tatiana e Maria) pois todos esperavam que fosse um menino para herdar o trono. Os mandatários só seriam pais de um varão três anos depois quando do nascimento de Alexei.
Imagem: Upendista.com |
A czarevna (filha do czar, em russo) tinha olhos azuis como todos os irmãos, seus cabelos eram louro-arruivados, tinha tendência a engordar e era de baixa estatura, coisa de que sempre se ressentiu. Seu nome significa 'aquela que renasce' ou 'a ressuscitada' (significado esse que caiu como uma luva depois que começaram a pipocar rumores de sua sobrevivência). Era chamada de Anastasie (seu nome em francês) ou Nastya, Nastas, Nastenka, Malenkaya (pequena), o carinhoso 'Raio de Sol' ou ainda Shvibzik (diabinho). Esse último talvez seja devido ao seu comportamento irrequieto que por vezes tirava alguns parentes do sério (sua tia Olga chegou a lhe dar uma bofetada).
A despeito de toda sua energia e vivacidade, a grã-duquesa apresentava alguns problemas de saúde: tinha joanetes nos dedos maiores dos pés e também um músculo fraco nas costas que precisava ser massageado duas vezes por semana (sessões que ela odiava). Talvez também fosse portadora do gene da hemofilia como a mãe (a tia Olga acreditava que as sobrinhas sangravam mais que o normal), pois essa doença genética é transmitida pela mãe aos filhos varões. A mulher não sofre da doença mas pode apresentar sintomas, como fortes sangramentos por apresentar menor capacidade de coagulação sanguínea. Talvez ela tivesse tido filhos hemofílicos.
Anastásia e Maria. Imagem: Upendista.com |
Anastásia e Maria eram conhecidas como o Par Pequeno enquanto Olga e Tatiana eram chamadas de o Par Grande. A princesa tinha uma conexão tão especial com seu irmão caçula que os dois se entendiam apenas com um olhar sem dizer palavra. Era ela quem acalmava Alexei em suas crises de hemofilia (doença genética que faz a pessoa ser propensa a hemorragias com o menor corte, acomete principalmente homens) e durante as sessões de tratamento com Rasputin, um monge tido como santo que tinha a devoção cega de Alexandra. Estava longe de ser discreta e bem comportada como as irmãs mais velhas: era uma menina bastante elétrica que gostava de imitar os demais e pregar peças neles. Não estava nem aí para a prórpia aparência e se comportava quase como um menino: pulava, corria e subia em árvores. Talvez ela soubesse inconscientemente que seus pais queriam ter um garoto quando ela nasceu...
Maria, Anastásia, Olga e Tatiana (sentada). Imagem: Wikipédia |
Durante a Primeira Guerra (1914-1918) Nicolau II foi considerado pelo povo como o único culpado por todas as mazelas sofridas. Em 1917, após a abdicação forçada do czar, ele, a esposa e os filhos, além de alguns criados e o médico da família ficaram primeiro em Czarskoe Selo sendo depois transferidos para Tobolsk e por fim a Ekaterimburgo, a cidade quer seria seu destino final. As moças eram seguidamente assediadas (tomem isso como um eufemismo) pelos bolcheviques mas mesmo assim tentavam passar o tempo da melhor forma durante a prisão. Segundo relatos de dois tutores das princesas, Sidney Gibbes e Pierre Gilliard, nada puderam fazer para ajudá-las: Gibbes foi assombrado pelo resto da vida por não ter podido socorre-las quando elas gritavam de terror e Gilliard descreveu a forma como tratavam qualquer um que o fizesse, incluindo ele mesmo.
Várias obras de ficção basearam-se na lenda criada em torno da czarevna, dentre elas:
— Clothes make the woman (As roupas fazem a mulher), filme de 1928
— Anastásia (com Ingrid Bergman no papel título), filme de 1956
— Anastácia, a mulher sem destino (novela brasileira), de 1967
— Anastasia, the riddle of Anna Anderson (Anastásia, o enigma de Anna Anderson), livro de 1983
— Anastasia, the mystery of Anna (Anastásia, o mistério de Anna), filme de 1986 baseado no livro supracitado
— Anastásia, filme de desenho animado de 1997
— Outros livros, além de músicas e um jogo de videogame
Anna Anderson: durante mais de 60 anos sustentou ser Anastásia Romanova. Imagem: Wikipédia |
Provavelmente de origem polonesa e chamando-se Franziska Schanzkowska foi a mais famosa 'Anastásia': muitas mulheres tentaram se passar pela filha mais nova de Nicolau e Alexandra mas nenhuma teve o destaque e a popularidade de Anna. Muitos eram os que não acreditavam que ela fosse de fato a grã-duquesa, incluindo a baronesa Sophia Buxhoeveden, antiga dama-de-companhia da czarina Alexandra, as tias Olga (por parte de pai) e Irene (por parte de mãe) e outros parentes, além dos tutores Gibbes e Gilliard (com sua esposa Alexandra Tegleva). Entre seus apoiantes estavam Serge e Gleb Botkin e Tatiana Botkina (respectivamente irmão, filho e filha de Eugene Botkin, o médico da família imperial assassinado junto com os patrões) além de Lili Dehn, amiga da mãe da grã-duquesa, e parentes como André Vladimorich, primo de Nicolau II. Pesavam contra ela o fato de falar alemão e não saber uma palavra de francês, russo ou inglês (nunca se falou alemão na família do último czar e a czarevna sabia as três últimas). Muita água rolou embaixo dessa ponte (inclusive processos nos tribunais e encontros com a família Schanzkowski). O mistério só acabou nos anos 90 quando um exame de DNA (graças a Deus que isso existe) comprovou que Anna era mesmo Franziska e não Anastásia. Encerrava-se em definitivo o mito da sobrevivência perpetuado por quase um século.
FONTES: Wikipédia, Blog Rainhas Trágicas, Upendista.com e Blog Os Romanov
A história de Anya, que depois descobriu ser Anastásia, foi inspirada no famoso mito da sobrevivência da grã-duquesa. Imagem: Blog Rainhas Trágicas |
Teria sido maravilhoso se ela tivesse realmente tido a chance de escapar. Se já tem tantas estórias e referências a ela sendo sua sobrevivência infelizmente uma lenda imagine se ela realmente tivesse fugido e vivido uma vida tranquila e anônima em outro lugar. Não foi o que aconteceu: a czarevna foi assassinada junto da família em 17/07/1918. Os corpos de todos foram banhados com ácido sulfúrico, queimados (talvez pra dificultar uma posterior identifação - ainda bem que o teste de DNA foi criado décadas depois) e enterrados, sendo que dois corpos foram enterrados longe dos demais. Quando as tumbas foram encontradas em 1998 a suposta sobrevivência de Anastásia ganhou vida nova. Mas então veio a quebra da expectativa de muitos admiradores: em 2007 foram descobertos os dois cadáveres restantes e comparando seus DNA's com o de um descendente Romanov ainda vivo (Felipe de Edimburgo, marido de Elizabeth II da Inglaterra) comprovou por A+B a identidade deles. Findava-se ali qualquer esperança de um final feliz para a princesa. Eu avisei que o final não era como o do filme. Espero que tenham gostado, apesar de ser uma história de final trágico. A moça não sobreviveu mas a história em torno dela ainda encanta a muitos e a fez se tornar uma das mais queridas e emblemáticas personagens históricas da História recente. Até mais, pessoal!
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