domingo, 27 de agosto de 2017

In alto, sempre più in alto

Olá a todos! Hoje trago a vocês uma música em italiano com uma mensagem muito boa. Não, ela não é romântica. Trata-se de 'In Alto' (No Alto, em português) do cantor Tony Maiello. Pra quem nunca ouviu falar dele, Tony venceu o Festival de Sanremo em 2010 na categoria 'Novas Propostas' depois de sair do programa X-Factor daquele país. Seguindo os passos de outros que passaram por Sanremo e se tornaram sucesso no Bel Paese Tony emplacou várias canções por lá e esse ano veio com essa maravilha. Escute-mo-la!




Ohohohohoh (2x)
Ohohohohoh (2x)
Fiore del creato, frutto del peccato
Flor da criação, fruto do pecado 
Brucia sulla testa il mio filo spinato
Queima na cabeça o meu fio espinhoso
Sciogli la corona, libera il mio petto

Derreta a coroa, libere o meu peito
Anima di luce esci allo scoperto

Alma de luz liberte-se (lit.: saia ao descoberto)
Illumina la strada, difendimi dal tempo

Ilumine a estrada, me defenda do tempo
Che spegne il mio ricordo e rende il cuore lento

Que apaga a minha lembrança e torna o coração lento
Sono sempre in viaggio, non chiedermi per quanto
Estou sempre em viagem, não me pergunte por quanto
Che per guardarmi dentro, devo stare più lontano

Que pra me olhar por dentro, devo estar mais longe
Perché cambio, passo dopo passo, mentre mi attraverso
Porque mudo, passo após passo, enquanto me atravesso
La ragione è sempre controsenso

A razão tá sempre em sentido contrário
E cambio, giorno dopo giorno, la vita in un secondo
E mudo, dia após dia, a vida em um segundo
Dammi solo un bacio e poi ritorno

Me dê só um beijo e então retorno 
Cammineremo tra i casini della vita 
Caminharemos entre as confusões da vida
Conserveremo i sassi lungo la salita 

Conservaremos as pedras ao longo da subida
E sfideremo il vento con un salto, oh 

E desafiaremos o vento com um salto, oh
In alto, sempre più in alto 

No alto, sempre mais alto
E balleremo sulla testa della luna 

E dançaremos sobre a cabeça da lua
E guarderemo in basso senza aver paura 

E olharemos pra baixo sem ter medo
Solleveremo il cuore dall’asfalto, oh 

Elevaremos o coração do asfalto, oh
In alto, sempre più in alto 

No alto, sempre mais alto
Ohohohohoh! In alto, sempre più in alto (2x) 

Ohohohohoh! No alto, sempre mais alto (2x)
Ohohohohoh 

Ohohohohoh 
Coraggio cavaliere, riprendi l’armatura 
Coragem cavaleiro, recupere a armadura
Sfodera il carattere, combatti questa vita 

Mostre o caráter, combata esta vida
E scrivila nel fuoco, incidila su pietra 

E a escreva no fogo, grave-a na pedra
Svegliati dal sonno, spezza la catena 

Desperte do sono, quebre a corrente
E libera le gambe, riscalda i legamenti 

E libere as pernas, reaqueça os ligamentos
Hai già le corde innate, ricava gli elementi 

Você tem as cordas inatas, obtenha os elementos
Lungo questo viaggio, nota dopo nota 

Ao longo desta viagem, nota após nota
Cambierà la musica e salterò un’ottava perché cambio 

A música mudará e pularei uma oitava porque mudo
P
asso dopo passo, mentre mi attraverso 
Passo após passo, enquanto me atravesso
La ragione è sempre controsenso 

A razão tá sempre em sentido contrário 
E cambio, giorno dopo giorno, la vita in un secondo 
E mudo, dia após dia, a vida em um segundo
Dammi solo un bacio e poi ritorno 

Me dê só um beijo e então retorno 
Cammineremo tra i casini della vita 
Caminharemos entre as confusões da vida
Conserveremo i sassi lungo la salita 

Conservaremos as pedras ao longo da subida
E sfideremo il vento con un salto, oh 

E desafiaremos o vento com um salto, oh
In alto, sempre più in alto 

No alto, sempre mais alto 
E balleremo sulla testa della luna 
E dançaremos na cabeça da lua 
E guarderemo in basso senza aver paura 
E olharemos pra baixo sem ter medo
Solleveremo il cuore dall’asfalto, oh 

Elevaremos o coração do asfalto, oh 
In alto, sempre più in alto 
No alto, sempre mais alto 
Ohohohohoh! In alto, sempre più in alto (4x) 
Ohohohohoh! No alto, sempre mais alto (4x) 
Libera le gambe, riscalda i legamenti 
Libere as pernas, reaqueça os ligamentos
Hai già le corde innate, ricava gli elementi 

Você já tem as cordas, os elementos
Lungo questo viaggio, nota dopo nota 

Ao longo desta viagem, nota após nota
Cambierà la musica e salterò un’ottava perché cambio 

A música mudará e pularei uma oitava porque mudo
Passo dopo passo, mentre mi attraverso 
Passo após passo, enquanto me atravesso
Con l’amore sempre in controsenso 

Com o amor sempre em sentido contrário
E cambio, giorno dopo giorno, la vita in un secondo 

E mudo, dia após dia, a vida em um segundo 
Dammi solo un bacio poi ritorno 
Me dê só um beijo e então retorno 
In alto, sempre più in alto 
No alto, sempre mais alto

(lit.: literalmente)

Entenderam a mensagem? Não devemos deixar os medos e os obstáculos (que são muitos) ser maiores e mais fortes que nós. Devemos e podemos ser maiores que os problemas que nos aparecem. A vida não vem com manual de instruções, então vamos errar muitas vezes e acertar outras tantas. Sendo assim procuremos fazer tudo da forma mais acertada. Não deixemos que os empecilhos colocados no caminho se agigantem e nos paralisem. Isso é tudo por hoje, em breve trarei mais postagens interessantes. Até mais, pessoal!

domingo, 20 de agosto de 2017

FC Start: o time que envergonhou o nazismo

Olá a todos! A história que contarei hoje agradará a gregos e troianos aos fãs de futebol e História. Sem dúvida são muitas as histórias de resistência às atrocidades praticadas pelo regime nazista na Europa durante a II Guerra. Uma das mais heroicas foi a partida de futebol disputada em 06/08/1942 em Kiev, capital da Ucrânia: lá ocorreu a épica partida que encerraria tragicamente a carreira dos jogadores do FC Start, um time formado por padeiros. Mas quem eram esses padeiros e como eles desafiaram Hitler e o nazismo? Sem dúvida uma incrível história de coragem e heroísmo.


Antes falemos brevemente sobre o futebol. O esporte como o conhecemos hoje (ou muito similar) começou no século XIX porém existem registros de atividades muito parecidas desde antes de Cristo. Não citarei regras e formato pois esses já são conhecidos de toda a gente. Sabiam que o esporte foi proibido na Inglaterra por cerca de 500 anos por ser muito violento? Claro que tudo era diferente, os tempos e regras eram outros... Mas o esporte evoluiu e se tornou a paixão mundial que conhecemos hoje.

Trazido ao Brasil em 1894 por Charles Miller, o futebol teve ampla aceitação e se tornou uma sensação no país. Filho de um inglês e uma brasileira, ele trouxe da Inglaterra duas bolas e um par de chuteiras, além de um livro com regras do esporte, uma bomba de encher bolas e uniformes usados. O primeiro jogo disputado em solo nacional foi em 1895 e daí em diante o crescimento foi vertiginoso. Na Europa o esporte já era um velho conhecido, ao ponto de vários times o praticarem por lá. Entre eles os jogadores da história postada hoje. Agora sim, vamos ao que ficou conhecido como 'A partida da morte'.

Monumento erguido aos bravos craques daquele histórico e fatídico jogo em frente ao estádio do Dínamo de Kiev. Nele está gravada a frase "Aos jogadores que morreram com a cabeça levantada ante ao invasor nazista". Mesmo arriscando as próprias vidas não se deixaram abater pelo medo e seguiram adiante em sua luta enfrentando o nazismo sem empunhar uma única arma.

A situação em Kiev não era fácil: território soviético ocupado pelos alemães, a cidade não vivia dias leves. Foi então que Iosif Kordik, dono de uma padaria, encontrou pela rua um de seus ídolos do time Dínamo de Kiev (time que existe até hoje e o mais conhecido da Ucrânia), o goleiro Nikolai Trusevich. O empresário era tido como introspectivo, taciturno e cruel mas era louco por futebol. Levou-o à sua padaria e junto a outros jogadores fundaram o time de vida curta que se tornaria uma lenda dos campos. O novo time ganhou de goleada muitas partidas e trouxe uma grande lufada de ar fresco de alegria aos ucranianos. Era lavada atrás de lavada. Como sempre acontece com alguns em relação ao sucesso alheio isso começou a incomodar os alemães. O time foi proibido de jogar no estádio grande e foi transferido a um menor. Os torcedores foram com ele, como era de se esperar.

Depois de conquistar várias e significativas vitórias o III Reich organizou uma partida entre o FC Start e o Flakelf, o time da Luftwaffe (força aérea da Alemanha nazista). No primeiro jogo os alemães passaram vexame: 5 a 1 no placar para os ucranianos. Qual não deve ter sido a surpresa dos alemães quando descobriram que os craques padeiros eram os antigos jogadores do Dínamo... Os alemães ficaram fulos loucos de raiva queriam matar os jogadores do time adversário. Mas acabaram marcando uma revanche 3 dias depois. Devem ter achado que a vitória viria por bem ou por mal. Queriam mostrar que a pretensa superioridade da raça ariana que estava sendo posta em xeque no campo de futebol era válida. No entanto...


09/08/1942: provocações eram ouvidas de ambos os lados (como nos clássicos-rei que existem Brasil afora). O estádio estava lotado, como era de se esperar. Os alemães até começaram ganhando de 2x1 mas os ucranianos viraram e a partida estava em 5x3 quando Alexei Klimenko, depois de driblar os adversários e ficar na cara do gol... chutou para o lado oposto! Humilhação completada com sucesso. Os torcedores do time da casa ficaram em estado de graça. Mesmo tendo sido ameaçados antes do início e durante a partida os jogadores do Start impuseram uma das maiores vergonhas futebolísticas da História e mostraram que naquele campo quem mandava eram eles. A arquibancada veio abaixo! O gol que não se concretizou foi mais humilhante que qualquer goleada. Kiev tinha todos os motivos pra comemorar...

Claro que os alemães não engoliram a vitória do time de Kiev em seco: trataram logo de acabar com o outro time de uma vez pra sempre. Dias depois dessa vitoriosa (em todos os sentidos) campanha, a Gestapo chegou à padaria onde os adversários trabalhavam e levaram vários deles presos. Torturados num campo de concentração, alguns foram fuzilados e outros sumiram sem deixar vestígio. Alguns poucos sobreviveram. O FC Start pode ter acabado, porém sua bravura e a cabeça erguida frente a um adversário disposto a qualquer coisa pela vitória (que custou a vida de alguns desses heróis) permanecem vivos.

Cartaz que anunciava a partida conhecida como "A partida da morte"

FONTES: blog do Adolf e sites AhDuvido & História Ilustrada

 
Os jogadores sabiam que arriscavam suas vidas mas foram até o fim e de cabeça erguida. Tornaram-se o maior símbolo de resistência na Ucrânia e até hoje são venerados naquele país. Em 1971 foi inaugurada uma estátua em homenagem a eles em frente ao estádio do Dínamo (Estádio Olímpico de Kiev). Foi uma partida histórica (que meio que se tornou mais um daqueles episódios pouco conhecidos da Segunda Guerra tanto pelos amantes de História quanto de futebol). Se tornaram verdadeiros heróis que preferiram morrer valentemente que continuar vivos e irem contra o que achavam o certo a ser feito. Como disse no início, uma incrível história de coragem e heroísmo. Acima de tudo, essa é uma história sobre a dignidade de um povo e de uma nação. Não foi apenas mais um jogo de futebol. Foi um jogaço por todos os motivos. Em breve mais postagens interessantes. Até mais, pessoal!

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Curiosidades Linguísticas — parte 3

Olá a todos! Eis a terceira parte das curiosidades linguísticas das línguas ao redor do globo. Agora venho com algumas línguas minoritárias que tem peculiaridades muito legais.É tanta língua que não dá pra falar de todas por mais que se tente. Confiram a terceira parte das curiosidades linguísticas.


Vietnamita: única língua tonal escrita em alfabeto latino, adotado oficialmente pelo Vietnã em 1910 e herança da colonização francesa (antes era usada a escrita chinesa). São usados acentos, pontos e outros sinais diacríticos pra marcar os 6 tons desse idioma (daí a escrita parecer tão confusa pra nós). Se você já se aventurou pelo chinês e outras línguas tonais já estará treinado (ou não, kkkkk) para lidar com os do vietnamita.

Albanês: única sobrevivente do ramo ilírio e muito influenciada pelo dialeto de Veneza (Itália).  Uma língua de pronúncia difícil e curiosa com direito a muitos - eu disse muitos - dígrafos, que são considerados letras separadas (com direito a uma letra muda - ou quase: Ë). O albanês (shqip) não só foi influenciado como também influenciou: o romeno tem algumas palavras vindas diretamente da Terra da Águia. Alguns exemplos:

Influência do veneziano
Influência no romeno
coverta (coberta) kuvertë
kopil (menino) copil
fanel (flanela) fanellë
buzë (lábio) buză
napa (pano) napë
cjap (bode) ţap
portego (vestíbulo) porteg
avull (vapor) abur

Nheengatu: descendente direta do antigo tupi falado quando da descoberta do Brasil por Portugal com alguns empréstimos do português. Também é chamada de língua geral (entre outros nomes) e ainda é falada atualmente no vale do Rio Negro. Uma pena que não se fale essa língua junto ao português no Brasil... Temos aqui uma pequena amostra dessa língua que deveria ganhar mais espaço na nossa Terra Mãe. Se Policarpo Quaresma estivesse vivo com certeza daria pulos de alegria ao ver que esse idioma ainda existe.


Suaíle: também chamada de suaíli ou swahili (Kiswahili no original) talvez seja a língua africana mais conhecida e estudada (me corrijam se eu estiver errado). Falada por cerca de 50.000.000 de pessoas no mundo (é muita gente, sô!) é vários países africanos a tem como língua oficial e/ou a usam como língua franca. Sabiam que a expressão 'Hakuna Matata' veio desse idioma e significa 'sem problemas' (como os próprios personagens do filme O Rei Leão explicam)? Várias outras obras de ficção já usaram ou fizeram referência ao suaíle, tais como Os Simpsons e Star Trek.

Sardo: língua da Sardenha, ilha italiana. Por sua situação insular o latim que se falava lá desenvolveu-se de forma bastante peculiar em comparação com as continentais. Mesmo assim existem semelhanças entre ela e o romeno (as duas são línguas derivadas de uma evolução particular do latim devido ao isolamento). Duvidam? Então citarei dois exemplos: limba/limbă e agiutoriu/ajutor (ajuda). Séculos de dominação ibérica favoreceram a entrada de palavras espanholas e catalãs no idioma da ilha (tanto que no porto de Alghero se fala catalão).

Romanche: em tese não é uma língua no sentido mais estrito e sim um conjunto de dialetos: alto engadino, baixo engadino, sobremirano, subselvano e sobresselvano (puter, vallader, surmiran, sutsilvan e sursilvan). Uma das quatro línguas oficiais da Suíça, é a menos falada daquele país (parece que a Suíça tá pouco ligando pra isso...) e está sob risco de extinção (esperemos que isso não aconteça). Soa como uma mistura de italiano com alemão, pelo menos foneticamente. Existe uma forma de unificação ortográfica cada vez mais difundida do idioma chamada Rumantsch Grischun, pois nem sempre falantes dos diferentes dialetos conseguem se entender. Eis aqui amostras desse belo idioma.

 A importância da língua e de sua preservação (legendas em alemão e inglês)


 
Três gerações contam histórias de suas vidas em Engadina (legendas em italiano)



Rádio e TV em romanche (legendas em francês)



Ladino-dolomítico: um tanto parecido com o romanche, é também uma série de dialetos e se fala nas regiões de Trentino Alto-Ádige e Vêneto (Itália). Tem esse nome por ser falada na região das montanhas Dolomitas, um braço dos Alpes italianos. Existe uma outra língua chamada ladino, surgida na Espanha, também conhecida pelo nome de judeu-espanhol e que mais parece um espanhol arcaico. Já o ladino italiano é mais puxado pro alemão, pelo menos na fonética, como poderão conferir nesse vídeo.


Holandês: ou neerlandês, se preferirem. Para alguns é como uma mistura de alemão e inglês (às vezes parece mesmo) mas tem uma identidade bastante própria. O que dizer daquele G tão fortemente aspirado que parece que tá rasgando a garganta? Tão interessante quanto suas primas, o holandês é tido como complicado porém se você já tem boa base de inglês e/ou alemão não será tão difícil dominar também a língua dos Países Baixos.

Sueco: língua nórdica com grande número de falantes não só na Escandinávia mas também no planeta, é mais uma parenta do inglês. Sua fonética não é fácil. O que dizer dos encontros consonantais SK, SKJ e STJ que na frente de algumas vogais tem um som algo entre o CH do alemão e o SH da língua da Terra da Rainha? Fora os outros que tem pronúncia bem diversa do que poderíamos imaginar. Eis uma 'degustação'.



Maltês: o único idioma de origem semítica da Europa e também o único dessa família que usa o alfabeto latino. É oficial em Malta junto com o inglês (que ofereceu empréstimos à língua), é derivado do sículo-árabe, um dos dialetos árabes, com empréstimos também do siciliano e do italiano. Há quem diga que a origem do maltês seja outra mas isso não vem ao caso aqui. Não tem as letras C e Y em seu alfabeto mas tem Ċ, Ġ, Ħ, e Ż (esta última como no polonês porém com pronúncia diferente), além do dígrafo e do encontro vocálico IE como letras separadas.

A diversidade linguística do mundo é impressionante, não? Espero que tenham gostado. Acho que futuramente trarei uma 4ª, 5ª, 6ª parte... Espero que curtam! Vale a pena conhecer cada língua falada ao redor do planeta ainda que não seja possível falar todas. Amantes dos idiomas, uni-vos! Até mais, pessoal!

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Ana Bolena, ascenção e queda de uma rainha

Olá a todos! Vamos de História hoje? Falaremos sobre Ana Bolena, uma das rainhas mais polêmicas que já existiu. Por causa dela Henrique VIII da Inglaterra rompeu com a igreja Católica sendo excomungado pelo Papa Clemente VII. Muitos apenas sabem que ela foi uma rainha e perdeu literalmente a cabeça. Conheçamos agora um pouco mais sobre essa mulher cuja ascenção foi meteórica e a queda tão meteórica quanto. Let's go, folks!


Ana Bolena nasceu no início dos anos 1500 (entre 1501 e 1507, as fontes divergem) e pertencia à nobreza inglesa. A família Bolena (Boleyn, em inglês) conseguiu ascender socialmente ao longo do século XV e quando ela nasceu os Bolena já era uma família nobre. Ela foi enviada ao Países Baixos (Holanda) e depois à França, servindo nas Cortes das rainhas Margarida da Áustria e Cláudia de Valois. Voltando à Inglaterra a moçoila logo despertou atenções e paixões: quase se tornou uma condessa irlandesa (esse foi o motivo da sua volta: casar com o primo James Butler a fim de resolver um complicado litígio de terras) e manteve um relacionamento com Henry Percy, herdeiro do Conde de Northumberland, mas essa relação subiu no telhado por razões desconhecidas. Logo sua sorte mudaria completamente...

Sendo aia de Catarina de Aragão, esposa de Henrique VIII, Ana logo chamou a atenção do rei. Ele já mantinha Maria Bolena, irmã de Ana, como amante há tempos porém a trocou pela irmã mais nova. No entanto não foi fácil para Sua Majestade conquistar a jovem: uns dizem que ela resistiu a ele por anos enquanto outros dizem que foi o contrário. Não importa quem resistiu a quem: o fato é que Aninha (olha o nível de intimidade!) tornou-se a nova favorita. Mas ela não estava interessada em ser só mais uma a dividir o leito de Henrique por alguns momentos. Ela queria mais, muito mais...

Eu não nasci pra ser a outra, nasci pra ser a única!

O monarca apaixonou-se loucamente por ela e procurou de todas as formas anular seu matrimônio com Catarina. As coisas não foram tão simples: Henrique já tinha sido um fiel aliado da Igreja Católica e recebera o título de Defensor da Fé. Além disso Henrique e Catarina eram pais de Maria (que se tornaria rainha anos depois) mas o rei queria um menino pra herdar o trono. Como ele esperava que Ana lhe desse esse gosto e o Papa se recusou a anular o enlace o monarca decidiu que o casamento seria anulado de qualquer forma. E assim foi: em poucos dias Ana se tornava Sua Majestade a Rainha. Mas-porém-contudo-entretanto-todavia...

Vocês acham que eles combinavam?

A nova consorte tinha o ódio da população e muitos cortesãos. Ela foi mãe de Elizabeth (que também seria rainha depois da irmã) mas teve várias gestações sem sucesso e o rei começou a ter amores com Jane Seymour, aia e prima em segundo grau de Ana! Conta-se que as duas até chegaram aos tapas! Ao contrário de Catarina, que apenas sorria e acenava, Ana armava barraco mesmo: deixava claro que não estava pronta pra aceitar as puladas de cerca do marido (que não era uma flor de formosura mas era Sua Majestade o Rei...).

Catarina de Aragão

Em 1536 morria Catarina de Aragão. Todos (incluindo Henrique) estavam de luto quando no velório da Princesa de Gales quem apareceu vestida de amarelo? Quem? Quem? Isso mesmo: Ana! A partir daí ela não era mais a queridinha do rei e a relação que já não andava bem das pernas foi pro espaço sideral de vez! Daí em diante o terreno foi ficando cada vez mais fértil para a queda dela e foi só ladeira abaixo. Seus detratores estavam cada vez mais perto de vê-la pelas costas e essa história de amor acabou de forma trágica.

Henrique VIII da Inglaterra

Ana foi acusada de bruxaria, alta traição, conspiração e adultério. Uma de suas puladas de cerca teria sido com o próprio irmão, Jorge. Seus supostos amantes (nunca foi plenamente comprovado que ela realmente tenha qualquer culpa das acusações) foram executados e a naquela ocasião ex-rainha também. Entretanto Ana não quis usar o método de execução inglês (no qual a vítima ficava ajoelhada enquanto o carrasco cortava sua cabeça com um machado): ela quis morrer com um golpe de espada (como na França, onde a vítima ficava de pé e seu pescoço era cortado pelo fio da espada) pois ela disse ser uma rainha e rainhas não abaixava a cabeça nem pra morrer! Sempre fora uma mulher altiva e passou dessa pra melhor de cabeça erguida.

Fontes: sites Tudor Brasil e History, Google Imagens e blog Escândalos Reais

Natalie Portman e Natalie Dormer como Ana Bolena

Emblemática como ela só, Aninha foi representada várias vezes na cultura: talvez a mais famosa seja a da série The Tudors com a atriz Natalie Dormer. Outra Natalie mais famosa (a Portman) viveu a rainha no filme A Outra (The Other Boleyn Girl, em inglês) tendo Scarlett Johansson como sua irmã Maria (que se livrou de uma ótima sendo rejeitada pelo rei. Curiosamente ela deu a Henrique um menino mas ele foi registrado como filho do marido dela). O mais provável é que ela tenha sido vítima de uma conspiração de gente que queria vê-la pelas costas. Houve quem dissesse em anos anteriores que o rei teria tido um caso com a mãe de Ana, mas ele negou tudo (Com a mãe, nunca!). Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre essa mulher que despertou amor e ódio em iguais proporções, gerando polêmica e fascinando muita gente até hoje. Até mais, pessoal!

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Entre a graça e o preconceito

Olá a todos! Lendo um texto sobre piadas preconceituosas tendo como personagens centrais os descendentes de asiáticos resolvi escrever algo sobre o assunto. Quem nunca ouviu (ou até mesmo contou) e riu com semelhantes 'gracejos'? O caso mais recente foi o do apresentador Raul Gil que se usou desse conteúdo e foi bombardeado pela opinião pública com críticas negativas ao fato.


Muitas delas estão enraizadas no nosso subconsciente mas com certeza os nissei e também descendentes de chineses, coreanos e outros com certeza já se cansaram de ouvi-las. Acho válida a campanha que se formou em torno do assunto. Já havia sido discutido quando da exibição da novela Sol Nascente, onde havia um núcleo nipônico. Dois problemas surgiram: o ator que fazia Kazuo Tanaka, o pai da protagonista, (Luis Melo) não era japonês e/ou descendente e muito menos a protagonista Alice (Giovanna Antonelli) o era. Claro que surgiu uma solução: Tanaka era filho de um americano e Alice não era filha biológica dele. Alegou-se que não havia atores que oferecessem o devido respaldo para os personagens. Claro que isso foi uma desculpa esfarrapada (que fique claro que acho os dois ótimos atores): existem vários atores nissei por aí mas pouquíssimos são chamados pra papeis além de orientais. Claro que eles não vão apagar suas características (e por o fariam?) por um papel porém porque não se dão mais oportunidade a eles? Quase não vemos atores e atrizes de olhos puxados na TV e no cinema.


Enfim, vamos a algumas expressões usadas (não necessariamente) como 'piadas' relacionadas às etnias. Não só os filhos, netos, bisnetos dos orientais são alvo: os negros tem que ouvir a todo momento coisas desagradáveis sob uma capa de comicidade desde sempre (tudo ainda fruto dos mais de 300 anos de escravidão no Brasil); piadas de português é só o que tem e o repertório é grande; quem é branco e louro é sempre chamado de polaco ou alemão mesmo que não pertença a essas etnias. Índios também acabam sendo vítimas de tal comportamento. Mesmo que se diga algo como 'todo mundo faz isso' temos que tomar cuidado. Quanta gente já não ouviu coisas do tipo:

Abre o olho, japa (ou china)!/Pastel de flango
Ô alemão/polaco... (várias continuações possíveis de frase)
Ei, croulo/a... (várias continuações possíveis de frase)

E por aí vai! Afora essas expressões supracitadas sempre tem alguém pra destilar ignorância sobre esse ou aquele. É mais fácil criticar e rechaçar o outro que conhecer (ou pelo menos tentar conhecer). Em época de politicamente correto não dá pra expressar nossas opiniões sem sermos tachados de preconceituosos mesmo quando não o estamos sendo (ao menos não conscientemente). Isso nos tolhe, mas nossa liberdade termina onde começa a do outro. Muitas vezes temos de calcular o que vamos dizer pra não provocar uma briga ou ir parar numa delegacia ou ainda ser processado. Seja como for, acho válida a iniciativa de acabar com gracejos maldosos que de tão enraizados acabamos reproduzindo-os sem nos darmos conta da carga de preconceito nelas. Essas piadas, gracejos ou que nome queiram dar ferem a outrem e isso não é legal!


A matéria sobre que me motivou a escrever esse post é esta: 

Minhas pesquisas me levaram a este outro, também forte (e do qual tirei uma das fotos): 

A ideia era trazer uma opinião a mais sobre o assunto. Precisamos sim falar sobre ele. Alguém que vá ler esse texto provavelmente vai se identificar. Antes que eu esqueça: de acordo com o dicionário, piada é um 'conto curto e humorístico utilizando situações críticas para levar ao riso'. Mas quando expõe alguém ao ridículo unicamente por sua etnia já saiu do terreno da graça. Espero ter contribuído. Até mais, pessoal!

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Casamentos morganáticos

Olá a todos! Hoje trago um assunto que vai interessar a quem gosta de histórias da realeza: os casamentos morganáticos de alguns de seus membros. Aqui teremos seis exemplos mas existem muitos outros mais. Vamos conhecê-los?



PEDRO DE ALCÂNTARA DE ORLÉANS E BRAGANÇA
E ELISABETH DOBRZENSKY DE DOBRZENICZ

Pedro e Elisabeth. Imagem: site Conservadorismo do Brasil
No início do século passado o príncipe resolveu casar com a condessa tcheca e teve a reprovação da mãe, a Princesa Isabel, pois a noiva não vinha de uma Casa Real ou Imperial. Para a princesa, a nora era apenas a filha de um conde que usava um título 'de cortesia'. O moço teve que assinar um documento abdicando dos direitos de sucessão (ele era o príncipe herdeiro) em favor do irmão mais novo Luís Maria Filipe. Os descendentes do distinto casal hoje formam o ramo não-dinástico de Petrópolis.

ALEXANDRE II DA RÚSSIA E CATARINA DOLGORUKOVA

Imagem: blog Os Romanov
O czar já havia conhecido sua mais duradoura amante (e ao que parece o amor da sua vida) quando ela tinha 12 anos mas acabou esquecendo o fato pois ela ainda era uma menina. Voltaram a se ver quando a moçoila tinha 16 anos e sua beleza encantou Alexandre. Ele era casado com Maria Alexandrovna e tentou ser discreto em seu romance com Dolgorukova porém... como conseguir isso sendo alguém para quem todos os olhos se voltam? Além do mais ela teve o terceiro filho com o imperador no Palácio de Inverno! Quando Maria morreu de tuberculose em 1880 a primeira coisa que Alexandre fez foi converter a amante em esposa cerca de um mês depois de enviuvar! Os filhos legítimos ficaram loucos da vida com o enlace mas o czar se justificou dizendo que temia ser assassinado antes e deixar Catarina sem nada. Ele permaneceu governando a Rússia ao contrário de outros que ousaram fazer o mesmo e foram banidos do país (afinal como um mandatário se exilaria a si mesmo?). Depois que Alexandre morreu Catarina foi embora do Palácio de Inverno e foi morar em Paris recebendo uma pensão de 3,4 milhões de rublos. No entanto faleceu 41 anos depois quase na miséria. Seus descendentes detem o título de Príncipe Yurievsky e Princesa Yurievskaya (herdados da mãe).

TATIANA CONSTANTINOVNA ROMANOVA E
CONSTANTINO ALEXANDROVICH BAGRATION-MUKHRANSKY

Constatino e Tatiana no dia do casamento. Imagem: Wikipédia

Tatiana era filha de Constantino Constantinovich Romanov, primo de Nicolau II. Em 1911 ficou noiva de Constantino Bagration e o pai dela foi falar com o czar e a czarina a fim de que o casamento não fosse considerado morganático pois o noivo não pertencia a uma família dinástica. O casal imperial, segundo o diário do grão-duque, garantiu que o matrimônio não seria visto como tal pois a Casa Bagration (da Geórgia) um dia já foi reinante. Assim sendo o casamento foi considerado dinástico mas achei interessante listá-lo. Os dois se casaram e tiveram dois filhos, Teymuraz e Natália. O príncipe georgiano assinou como Príncipe Gruzinsky (Georgiano). Constantino (o marido) morreu em 1915 durante uma batalha em plena 1ª Guerra. Mais tarde ela casou de novo mas enviuvou poucos anos depois.

NICOLAU GUILHERME DE NASSAU E NATÁLIA ALEXANDROVNA PUSHKINA


O príncipe de Luxemburgo casou em Londres com Natália, neta do poeta russo Pushkin. Seus filhos não poderiam herdar os títulos ou a posição do pai. No entanto Natália recebeu o título de Condessa de Merenberg do príncipe Jorge Vítor de Waldeck e Pyrmont. Sua filha Sofia, assim como os pais, também se casaria morganaticamente com Miguel Mikhailovich da Rússia. O grão-duque Adolfo de Luxemburgo, tio de Sofia, deu-lhe o título de Condessa de Torby e esse podia ser herdado pelos seus filhos.

FRANCISCO FERNANDO DA ÁUSTRIA E SOFIA CHOTEK



Talvez esse seja o maior exemplo de quando alguém joga as convenções da realeza pro espaço e escolhe seguir o coração: o príncipe herdeiro do trono austríaco apaixonou-se pela dama de companhia tcheca e brigou com meio mundo a fim de desposá-la. Os dois se casaram e tiveram três filhos. O preço foi alto: FF teve que assinar um documento onde dizia que Sofia nunca seria imperatriz e os filhos nunca estariam na linha de sucessão. Spoiler: os dois foram assassinados em Sarajevo (Bósnia) em 1914, evento esse que foi o estopim da 1ª Guerra. Maiores detalhes sobre a incrível história de amor clique aqui.

PAULO ALEXANDROVICH DA RÚSSIA E OLGA PALEY
 
Paulo Alexandrovich e sua amada Olga Paley

O grão-duque apaixonou-se perdidamente por Olga quando ela ainda era casada com o ajudante-de-campo Erich von Pistohikors e insistiu que seu sobrinho Nicolau II concedesse o divórcio a ela. O czar concordou mas impôs a condição que o tio não casasse com a mulher. Ele 'concordou': na primeira oportunidade trocou alianças com seu amor e os dois foram banidos da Rússia. Tiveram três filhos (Vladimir, Irina e Natália, os quais herdaram o sobrenome Paley). Olga recebeu o título de Condessa von Hohenfelsen de Leopoldo da Baviera e o título podia ser herdado pelos filhos do casal. Mais informações sobre Paulo e a história dele com Olga, clique aqui.

Quando se trata de casar por amor o negócio pode ser espinhoso... Que o digam esses casais! No entanto eles ficaram juntos mesmo com todas as represálias. Existem mesmo coisas que o dinheiro não pode comprar. Enfrentaram meio mundo de oposição, tormentas, desejos contrários... e não desistiram. Espero que tenham gostado. Até mais, pessoal!